quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Pai divorciado



Pai divorciado

Potes cheios,
bolachas,
doces,
pirulitos,
chicles com recheio.

Brinquedos organizados,
de um lado e de outro,
com a saudade no meio.

Retratos na parede,
o filho lindo...
Um silêncio abortivo
e o tempo opressivo.

A roda maluca,
o avião inflável,
bichos de pelúcia
e teu sorriso fácil,
sempre tão aguardado.

O tempo que maltrata,
pela segunda-feira,
sempre tão distante do sábado.

Pelas mudanças na aparência,
da infância
para a adolescência.

Perde-se o esteio,
na falta do ombro amigo,
nas noites silenciosas,
nas estórias infantis,
agora ociosas,
na esperança; que jaz melindrosa.

E sopra o vento,
sobre as páginas viradas,
deixando a saudade como testamento.



por Sandro Colibri em 12/04/2007
Código do texto: T447239

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CORTINAS DA ALMA.




CORTINAS DA ALMA.


Enquanto o bom senso não me separar da loucura,
a solidão persistirá revisitando meu diário,
na madrugada onde a claridade ofusca uma idéia
e expõe um corpo nu e solitário;
sinto meus ossos reclamando o estresse cotidiano.

Quero o silêncio mas o vento é indiscreto,
seu silvo escandaloso açoita a janela,
soprando pesadelos e emoções, minha alma é prisioneira
e a caneta vilipendia a essência;
a força do verso pertence a ela.

Tenho a loucura e ausência do afeto,
porém, da perfeição dos SALMOS vem o alivio,
eu os devoro compilando paz e discernimento,
minha caneta é a testemunha a eternizar na página,
imprimindo a escrita e catalogando o gesto...
Os SALMOS ensinam; a dor não é infinita.

A poesia é meu alento.
O bom senso retorna, porque a loucura reclama a insônia.
O corpo nu abandona-se no colchão semiortopedico.
A caneta repousa semi-seca de idéias.
O vento ainda reluta e a janela não o condena,
contudo, agora é o cansaço que assina a trégua.
Fecham-se as cortinas da alma.



por Sandro Colibri em 04/05/2009
Código do texto: T1575693

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ORGASMO LITERÁRIO


Fonte imagem: frutoproibido.com

ORGASMO LITERÁRIO

Nesta noite insone,
acostei-me em palavras
e numa delonga de dar pena,
aspirei lascívias solitárias...
Tua nudez, minha virilidade,
letras mudas testemunharam admiradas.
Sem nenhuma prudência,
despi-me dos versos
e gozei o lasso momento;
ruborizei a frase,
pulverizei a rima,
dei-me somente á margear o texto.

Nesta noite insone...
Bocage franziu a testa; desaprovando.
Fernando Pessoa ficou estático.
Um Drummond, lamurioso... Inquietou-se!
Do que me valho agora?
Simples neologismo.
Tesônicos quebram o silêncio,
enquanto vogais e consoantes,
correm afoitas pelas linhas seguintes
e sossegam no finalmente,
consolidando meu orgasmo literário.

Nesta noite insone.
Quem condenará meu ato?
Quantos me seguiram até o fim da página?
Quantos desfrutaram de minha ousadia?
Enquanto exponho minha arrogância,
permito-lhe o prazer,
o despudor fantasioso desta leitura...
Imagine quantas letras desnudei,
diante de teus olhos...
Letras umedecidas em meu esperma literal.


Sandro Colibri
Reeditado em 30/10/2007
Código do texto: T716624

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

“Jesus”...



“Jesus”...


Hoje, estive sentado á lhe estender a mão, a calçada fria e dura, por algumas horas me pertenceu. Humildemente permaneci ali. Roupas sujas, cabelo e barba desgrenhada; tive fome, sede, senti frio e medo e o teu olhar de asco ferindo minha carne.
Novamente fui humilhado e maltratado por meu semelhante.
Ofereceram-me drogas e bebida alcoólica. Friamente apenas um, me disse: “Jesus te ama” - de longe, desviando se para não ser tocado.
_Perdoa meu Pai, eles ainda não sabem o que fazem.

Hoje, permaneci deitado, misturado ao lixo da calçada. Meu corpo solicitava cuidado, senti fome, sede e frio. Pedi –lhe um biscoito, um brinquedo – mesmo que usado – somente a cola de sapateiro me foi ofertada. Novamente lhe estendi a mão, porém, em tua pressa habitual, nem notastes a frase escrita na camiseta suja que Eu usava:
“Ama a teu próximo como Eu vós amo”
_Perdoa meu Pai, eles ainda não sabem o que fazem.

Hoje, andei entre vós, amparei a vossa tristeza, enxuguei o vosso pranto, lhe estendi a mão e te levantei quando caído. Segui ao teu lado apoiando-lhe em meu ombro quando ferido, entretanto, permaneceste surdo, quando lhe chamei de meu filho.
“Honra a teu pai e tua mãe”.
_Perdoa meu Pai, eles ainda não sabem o que fazem.

Amanhã, estarei em vossa casa e mesmo que não queiras, ainda assim, lhe darei a minha benção: _ “Bem aventurados sejam estes pobres homens de pouca vontade, para que em seus corações; floresça a solidariedade”.



*As citações bíblicas foram extraídas da versão brasileira:
- A Biblia Sagrada - SBB 2º edição.

Sandro Colibri
Reeditado em 09/12/2008
Código do texto: T786221

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Doa-me Brasil...



Doa-me Brasil...

Doa-me... Na carne,
o corte profundo das verbas da saúde,
pois na solidariedade,
todos aceitam a morte,
como um remédio útil.

Cega-me...
na tolerância,
pela insegurança;
e quantos filhos de minha pátria,
serão encontrados pela bala maldita?
Perdida? Achadas! Ceifa vidas.

Doa-me... Na consciência,
a falta de critério e de indignação,
que reconduziu ao congresso,
os criadores do mensalão.
Covardia? Falta opção?
Conformismo... Ladrão por ladrão!?

Corta-me... Sem piedade.
com teus impostos abusivos,
com tua falta de compromisso,
por tua omissão na educação.
por tantas outras vias,
reduzindo o meu orgulho a cinzas.

Cala-me... Com tua visão arcaica,
com teus poderes escusos,
com teu exercito difuso,
que tenta silenciar minha oposição
e tenta, e tenta... Tentam,
mas por tua inteligência _ não conseguirão.

Doa-me... De qualquer forma,
com os atropelos da indiferença,
com a indignação que retoma a consciência,
pela volta da esperança e na crença.
Então doa-nos Brasil...
Para o teu povo renascer.

Doa-nos também, por toda massa carcerária,
quatrocentas mil cobaias,
ociosas em cativeiro;
o joio, o trigo e o centeio,
da receita ao pão amargo,
tem o diabo como padeiro.

Doa-me Brasil...
Na indignação e na revolta,
de meus patriotas.
Eu quero doer.
Quero viver o meu grito...
Deixa-me crescer.



Sandro Colibri
Reeditado em 07/08/2009
Código do texto: T428109

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O pequeno Diário de Eva.




A princípio, tudo era festa e Adão reinava absoluto. O paraíso era apenas funcional, não havia a beleza de Eva, nem os perfumes que exalavam de seu corpo... Não acredita? Leia os fragmentos encontrados no pequeno Diário de Eva.

“Sou Eva. Linda e necessária, bela e única, poderosa e insinuante... Pobre Adão; ainda acredita na estória da costela... Um osso apenas!? Estou livre, porém, o paraíso me enlouquece com tamanha perfeição. Flores desabrocham em centenas de cores, frutas amadurecem em incontáveis sabores, a fauna é rica em milhares de espécies, contudo Adão é único e completamente avesso à evolução”.
_Percebe-se que Eva era observadora.

“Temos diferenças anatômicas. Adão é um macho com muitos músculos e pêlos, possui um membro exposto que endurece quando tocado. Ao contrario dele, tenho belos seios, poucos pêlos e uma fenda que fica completamente úmida quando estou excitada”.
_Ops! Atrevida, inteligente, exuberante, sem duvida; Eva era um atrativo no paraíso.

“Hoje acordei com a macaca, nada tem graça, o som da bicharada me deixa muito irritada e ainda tem o Adão... Insensível, pragmático, simiesco. Que droga Adão, pega logo essa banana e some”.
_Ui! TPM de alto risco.

“Encontrei uma maneira de aguçar o macho Adão. Outro dia devoramos a maça, desta vez, tentarei morangos e manga. Hummmm! Delicia, continua...”
_O autor informa: Para melhor aproveitamento deste trecho, lave bem as frutas antes de consumi-las.

“Desta vez não tem perdão. O todo poderoso ficou furioso, Adão só pensava naquilo; não deu outra, fomos expulsos do Éden”.
Nota do autor: Trechos de menor relevância e conteúdo histórico não foram transcritos para se preservar a originalidade desta obra.

“Neste outro mundo, Adão comporta-se como um casto, após a árdua labuta, procura-me apenas para a simples procriação. Exige submissão, enquanto defendo a igualdade”.
A história confirma o fato; Eva também era profética.

“Passados dois mil anos e continuamos evoluindo. As velhas folhas de parreira foram substituídas pela beleza e elegância de Victoria’s Secret e Rosa Chá. Um Adão entusiasmado e extenuado reclama um pouco dos excessos no cartão de credito, entretanto, no final; sempre agradece”.
Nota do autor: As marcas citadas neste texto poderão contribuir com a evolução deste autor, enviando cheque nominal e de quantia satisfatória para o mesmo.

“Que absurdo, hoje o Éden é anunciado e comercializado como um paraíso verde, com três ou quatro dormitórios, ampla área de lazer e nas proximidades dos grandes shoppings centers, com fácil acesso as estações do metrô”.
Nota do autor: Este trecho poderá ser modificado de acordo com o interesse comercial do mercado de imóveis. Esta obra poderá ser adaptada para o cinema. Roteiro, merchandising e agradecimentos; vide bula. E finalmente, o pequeno Diário de Eva, poderá ser escrito por você mulher; moderna, liberal, sensual, intelectual, executiva, dona de casa, batalhadora, definitivamente uma espécie em eterna evolução ou simplesmente uma Eva.


Leia também: "Adão o pecador".

Sandro Colibri
Código do texto: T698684

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Adão, o pecador.


Adão e Eva - desenho de Robert Crumb


Do fruto proibido Eva cedeu-me um naco, desnecessário.
Pobre cobra, agora rastejante, pagaste inocentemente por meu pecado.
Soubesse eu, ver assim tão bela, minha costela, teria doado ao menos duas. Todavia, Eva era única e deliciava-me ao ver ela a caminhar completamente nua. Escondido, observava nela os seios fartos e a penugem escura, recobrindo a vulva. Eu a cobiçava e enrijecia.
_ Que cobra, que nada... Coitada! A maçã foi apenas um pretexto. Sempre fui canalha a observar os bichos no cio; copularem. Onças, jaguatiricas, girafas, por muitas vezes era engraçado _ imagine um casal de ouriços _ em outras, excitava-me. Por isso a idéia... Eva era necessária.
Quando me ouviu, o todo poderoso ficou furioso, minha intenção era grotesca, fugia as regras impostas por Ele, por fim; deu-me Eva. Sem duvida a primeira maravilha sobre a terra. Tolos mortais, nomeiam agora apenas sete. Ah! Se tivessem admirado Eva como eu admirei. Ela era simplesmente magnífica, na sutileza da forma e generosidade dos traços _ Di Cavalcanti, teria enlouquecido. Ave, natureza!
A macacada ficava alvoroçada, era tanta inveja, que vejam bem; rapidamente evoluirão. Então esqueçam toda aquela teoria ensinada e apregoada por Darwin.
Eva era somente minha e eu a possuía sobre a relva, enquanto olhos curiosos nos observavam de cima das arvores; vulgaridade? Não sei, o fato é que o tesão aumentava.
Os pássaros entusiasmados com a cena agitavam-se e nos agradeciam com uma bela cantoria. Pura luxúria nos envolvia.
Depois do ato, vinha o honroso descanso e vagabundeávamos pelo Éden em gostosa preguiça e comíamos com extrema gula.
Os papagaios em sua tagarelice cotidiana, anunciavam aos quatros cantos: “Adão anda pelado, Adão anda pelado”. Eva irritava-se com aquilo, ciumenta como só ela, logo arrumou algumas folhas com as quais nos cobrimos.
Bons tempos. Não havia preocupação com futuro, não existia dinheiro, um verdadeiro paraíso, a lei do mais forte contemplava apenas a cadeia alimentar... E tinha Eva, linda, exuberante, fascinante... Quantos predicados, tantos pecados; todos meus.


Sandro Colibri
Código do texto: T616209

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O oráculo dos mentirosos.



Ousa um pobre histrião,
enaltecendo-se fisicamente no PC.
Caça faminto; a jovem indefesa,
logrando os fatos da própria beleza.
É louro, lindo e rico,
um Lord enfeitando a tela,
protegido pela vã virtualidade,
foge a realidade e no teclado exagera.

Finge a jovem iludida,
vestindo os fetiches do infeliz.
E ela que ao espelho se faz simpática,
virtualmente transforma-se em miss.
Pactua inverdades no bate-papo,
brinca, excita, exaspera
e de uma bela mariposa outrora caçada,
surge a rainha que ao zangão dilacera.

Envoltos nos sortilégios pré-conquistados,
partem ambos ao fatídico encontro.
Apresenta-se o príncipe metamorfoseado,
um sapo, perdido e verborrágico.
Ela mal-ajambrada e mitigada,
disfarça-se na intrépida maquiagem
e devoram-se pela falaciosa anedota,
pois, a moral da estória logrou a malandragem.

Nas controvérsias da ocasião,
temos um ex Narciso constrangido
e uma Nereida de face amarga;
ambos pelos Deuses, desprotegidos.
Um Romeu e uma Julieta em extrema alusão,
uma Feona e um Ogro, exaltando a animação,
experimentando o próprio veneno,
confrontam na mentira, as facetas da ilusão.




Sandro Colibri
Código do texto: T570186